quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Done e sua arte para o corpo

O multi-artista Done Karapiá mora em Boa Vista há mais de trinta anos e é natural de Roraima, com ascendência Macuxi e Wapixana por parte de mãe, e Saterê e Jaci por parte de pai. Autodidata, expressa sua arte através de pinturas corporais com tinta de jenipapo, pirogravura em osso, cestaria, confecção de colares, pulseiras, brincos e instrumentos musicais, pintura em tecido, e música.


Conheci Done e sua arte em novembro de 2019 na Galeria Jaider Esbell, durante a comemoração de aniversário do amigo Enoque Raposo, quando peguei carona pra comemorar meus 68 aninhos na mesma data. Foi quando conheci melhor a obra do Jaider na exposição que ele mantém na galeria da Paraviana, bairro de Boa Vista (vejam a primeira postagem deste blog).


   
Pintura em tecido - camisetas.

A arte de Done não é apenas decorativa, têm fundamento, e através de seus desenhos ele procura repassar as vivências e o conhecimento dos povos originários ao retratar em suas pinturas a confecção de uma cestaria ou uma dança, por exemplo.



  

Ao confeccionar uma cestaria, Done Karapiá explica como se retira o material, como se faz o trançado e para que serve - um conhecimento que quem adquire uma peça numa loja comercial nem sempre tem acesso. Quando faz uma pintura corporal de um indígena tocando instrumentos tradicionais, com o Kiywei, ficamos sabendo que aquele é o puxador da Parixara - dança com canto de resposta do povo Macuxi.

 
O puxador da Parixara.

O multi-artista Done Karapiá está desenvolvendo agora um livro em quadrinhos para contar as histórias que aprendeu de seus avós, as lendas que compõem o conhecimento indígena e que até pouco tempo eram repassadas apenas de forma oral nas rodas de conversa com os mais velhos.



 
Acima, alguns desenhos que integram o livro.


O músico Done integra a Banda Kruviana - uma mistura de influências indígenas e contemporâneas onde os músicos procuram retratar os diversos aspectos de sua cultura tradicional - seus saberes, suas belezas e suas lutas. E aqui o artista faz questão de realçar que "essas lutas são, na verdade, de todos aqueles e aquelas que entendem a importância desse conhecimento ancestral e que se integra e preserva a natureza". O artesão também confecciona instrumentos tradicionais indígenas, como o Kiywei e pequenos tambores - no momento está confeccionando uma Moringa de cuia que espera que tenha um som bem legal.

 
Acima o KIywei, planta e sementes, para confecção do instrumento.

Para ele "é um prazer fazer música, essa linguagem universal, e a importância de se preservar e difundir as culturas, as línguas e as danças, não só dos Macuxi, mas de todos os povos de Roraima".


 

O multi-artista Done Karapiá está agora de mudança para o estado do Amazonas e vai residir na cidade de Presidente Figueiredo, próximo a Manaus. Lá ele irá dar continuidade à sua arte e pode ser contatado através do WhatsApp pelo número (95) 98403-8470.

O multi-artista Done Karapiá pintando o braço deste jornalista.


domingo, 12 de janeiro de 2020

Carmezia e os Mundos Makuxi


Carmezia Emiliano é indígena Macuxi e vive em Roraima desde 1973, quando sua família migrou da República Cooperativa da Guyana para a aldeia Japó no município de Normandia-RR. Desde 1988 Carmezia reside em Boa Vista. (Clique nas imagens para ampliar).

Árvore da vida (2018)
O blog visitou sua mais recente exposição "Cosmologias - Mundos Macuxi", inaugurada em novembro de 2019 na galeria do Sesc Centro, em Boa Vista, reunindo 25 telas e quatro esculturas e que pode (e deve) ser apreciada até fevereiro deste ano com entrada gratuita, das 8 às 12h e das 14 às 18h.


Premiada quatro vezes pela Bienal de Arte Naif do Salão Sesc de Piracicaba - SP, Carmezia Emiliano soma vinte e sete anos de carreira nas artes e também recebeu o Prêmio Buriti da Amazônia de Preservação do Meio Ambiente, em 1996, na categoria revelação.

Fazendo panela de barro (2012)
Parixara (2000)

Em seu texto curatorial no folder da exposição, o também artista Macuxi Jaider Esbell nos revela que: "No lavrado, a casa de Carmezia, existem muitos lagos, fendas, fundos, passagens estreitas, secretas e mágicas. A entidade Carmezia mora nesses lagos, vive cheia de magia e fértil vive a se mudar, para lá e para cá... Universos são revelados em cada cena tratada, trabalhada, ritualizada, curada, energizada. Cada tela fala, canta, encanta, espanta, faz voltar a anta... Caminhos são deixados como pistas, raros convites para quem consegue ver, crer, perceber, receber, beber, beber, beber até vomitar de tanto prazer."
E pergunta: "Carmezia, sua arte é santa?"

 
O salão da exposição, todo em branco, destaca as cores das obras de Carmézia.

 


 

 

Em sentido horário: "Sem Título" (2014), "Disfiando agudão" (2015), "Bebe na tipoia" (2016), "Sem título" (1994), "As índias" (2010), e "Fazendo beju" (2015)


Em outro texto no folder da exposição, a poeta Eli Macuxi realça que: "O destaque que a artista dá, em sua obra, para mulheres como ela, chega a parecer uma militância... As mulheres de Carmezia estão em todas as atividades. Fiam, sozinhas ou em grupo. Coletam e carregam os frutos como o caju e a banana. Ralam a mandioca, preparam o beiju, pilam o milho, produzem a cerâmica. Aparecem pescando com os companheiros, ou no entorno, preparando a damurida..."
E finaliza a poeta: "Nenhum discurso das mulheres em suas assembleias poderia valorizar, de modo mais completo e persuasivo, a presença feminina para a manutenção das tradições indígenas".

  
Esculturas de Carmezia Emiliano (2019)

Pescador (2018)


Para finalizar, algumas páginas do livro "Visualidades", sobre a artista, organizado por Adriana Moreno e Elisangela Martins Macuxi, e editado pela EDUFRR em 2015.

 



Para conhecer outras obras de Carmezia Emiliano, e sua biografia, basta uma simples pesquisa na internet.

Aproveite a conexão e veja também:
Jaider Esbell - http://www.jaideresbell.com.br/site/

Texto e fotos da exposição - Paulo DeCarvalho


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Galeria Jaider Esbell

Localizada no bairro Paraviana em Boa Vista, a Galeria Jaider Esbell é um dos lugares a se visitar na capital de Roraima, para conhecer e apreciar arte indígena contemporânea e tradicional.
Lá, além das obras do artista num período que abrange sua produção desde o início dos anos 2000 até os dias de hoje, podemos conhecer também esculturas, quadros, objetos e outros artefatos da arte indígena do Brasil e do exterior, coletadas por Jaider em suas frequentes viagens.

 

 
Acima, aspectos da exposição de longa duração da Galeria.

  
O atelier e o artista.

Jaider Esbel é indígena macuxi,e atua como escritor, artista plástico e produtor cultural independente. Em 2010 foi premiado pela Funarte e, em 2016, recebeu o prêmio PIPA.
Morador em Boa Vista, Jaider é artista do mundo e sua belíssima e instigante arte é (re)conhecida no Brasil e exterior.

   

 
Acima, detalhes de algumas das obras recentes de Jaider Esbell

Este ano Jaider organizou e lançou o livro "Makunaimã - o mito através do tempo", em Boa Vista e em São Paulo, na Biblioteca Mário de Andrade, com leitura dramática que contou com a participação do artista e de Deborah Goldemberg, Marcelo Arial e Jefferson Gonçalves, direção de Eduardo Silva. O livro foi editado pela Elefante Editora.

Banner do lançamento do livro em São Paulo

Jaider e Koko Meriná Eremu, a vó Bernaldina Macuxi.
(Imagem de divulgação do evento OUVEAVÓ n'A Casa Tombada em São Paulo)


Clique na imagem para acompanhar as atividades da Galeria pelo Facebook.

E clique AQUI para acessar a página do artista no Facebook.

Texto e fotos da Galeria - Paulo DeCarvalho